Jascha Heifetz, o violinista de Deus

Ilustrações de Jascha Heifetz por James Charles House Jr. e Al Hirschfeld
Por Jota A. Botelho, GGN -


ascha Heifetz (1901-1987) foi um dos maiores virtuoses da história do violino desde o mágico Paganini, sendo  considerado amplamente como o melhor violinista do século XX, a ponto de Bernard Shaw escrever-lhe uma carta um dia depois de sua estreia em Londres, quando Jascha tinha 19 anos, e que se tornou lendária: "Se você provocar um Deus ciumento, tocando com tal perfeição sobre-humana, você morrerá jovem. Sinceramente, aconselho-te a tocar mal todas as noites antes de dormir, ao invés de fazer suas orações. Nenhum mortal deveria se presumir a executar este instrumento tão perfeitamente". O violinista Itzhak Perlman, no documentário de Peter Rosen, Jascha Heifetz, o violinista de Deus (God's Fiddler: Jascha Heifetz), diz que "quando eu falei com ele, pensei, não posso acreditar. Eu estou falando com Deus".

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JASCHA HEIFETZ


Nascido em 2 de fevereiro de 1901 em Vilna (hoje Vilnius, Lituânia), pertencente ao antigo império russo, Heifetz inicia seus estudos de violino com o pai Ruvin aos 3 anos, prosseguindo em sua formação, a partir dos 5 anos, na Academia Real de Música de Vilna. Fez sua estreia pública no ano seguinte, 1907, em Kovno, executando com brilho o Concerto de Mendelssohn. Entrou na famosa classe de Leopold Auer em São Petersburgo com a idade de nove anos e em três anos foi considerado uma criança prodígio, com raro dom para a música.


Desde seu primeiro concerto orquestrado em São Petersburgo, no dia 30 de abril de 1911, ele expôs sua arte em frente a plateias imensas em todo o mundo e através de viagens ao redor do globo, com inúmeras aparições em rádios e participações em produções cinematográficas.
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Diplomado aos 7 anos, empreende uma série de turnês na Lituânia e ganha a reputação de ser "a mais fenomenal das crianças prodígios de seu tempo". "Sabe - disse Heifetz certa vez - na minha opinião, isso de criança prodígio não passa de uma doença, geralmente fatal. Eu tive a sorte de estar entre os poucos que sobreviveram a isso. Mas havia a vantagem de possuir um grande professor e uma família que levava a música em alta consideração, tinha bom gosto e odiava a mediocridade".
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Nos anos que se seguiram ao seu primeiro concerto em São Petersburgo, Heifetz apresentou-se seguidamente na Alemanha, Áustria e Escandinávia. Quando eclode a Revolução Bolchevique em 1917, Heifetz e sua família deixam a Rússia e emigram para os Estados Unidos. Sua estreia no Carnegie Hall, em 27 de outubro do mesmo ano, foi comentada por muito tempo. Fritz Kreiler, o mais festejado dos violinistas à época, diria ao cabo da apresentação: "Nós já podemos ir para nossas casas, e quebrar nossos violinos, pois achamos alguém insuperável".
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Do dia para a noite, Heifetz se tornou um ídolo e durante aquele ano se apresentou mais trinta vezes apenas na cidade de Nova Iorque. Mestre de um vasto repertório, gravado em grande parte ao longo dos anos, tanto solo quanto em performances com conjunto. Ele ganhou três prêmios Grammy e recebeu um Grammy Lifetime Achievement Award. Violinistas de renome, tanto mais velhos e mais jovens, como Fritz Kreisler e Nathan Milstein, se sentiram humilhados com o seu domínio do instrumento, quando se conta então outra história de dois músicos que ficaram atordoados pela técnica e o tom lírico de Heifetz, em sua estreia em Nova York, num recital aos dezesseis anos de idade. Durante o concerto, Mischa Elman, um violinista mundialmente famoso, no auge da sua carreira, limpou o suor da testa e virou-se para seu amigo, o pianista e compositor Leopold Godowsky, e disse: "Está muito quente aqui". Quando Godowsky respondeu: "Não é um lugar para pianistas".
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Rapidamente Heifetz adotou os Estados Unidos como pátria e naturalizou-se como cidadão norte-americano em 1925.
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Recusando-se a ceder em seus programas de concerto por considerações políticas, escaparia de uma tentativa de assassinato em 1953, cometida por um extremista judeu de Jerusalém insatisfeito pela execução de uma peça de Richard Strauss, hostilizado pelo governo israelense por suas simpatias com o nazismo. O violinista diria que "a música está acima desses fatores. Não vou mudar meu programa. Tenho o direito de decidir sobre meu repertório". A execução da peça foi seguida por um silêncio tumular. Ferido no braço direito por uma barra de ferro ao proteger seu instrumento, o judeu Heifetz cancelou seu último concerto e só retornaria ao país 17 anos mais tarde.
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Assim que atingiu os sessenta anos, já com meio século de apresentações e concertos em todo o planeta, Heifetz começou a diminuir gradualmente suas aparições em público, até seu último recital, em 1972. Agora, ele devotaria toda sua vida ao ensino. Guiando seus alunos com firmeza e sarcasmo, Heifetz tentava incutir-lhes o respeito pela disciplina, além das formas de tocar o violino com virtuosismo e poder, ensinando-os a fazer o melhor da música com o instrumento. Começou a lecionar na Universidade do Sul da Califórnia onde suas aulas foram gravadas e distribuídas pelo mundo afora.

Heifetz foi casado por duas vezes. Tinha dois filhos com sua primeira mulher e um filho com o segundo casamento. Faleceu aos 86 anos em Los Angeles em 10 de dezembro de 1987, sendo considerado o maior violinista do século XX.

ALGUMAS PEÇAS TOCADAS POR JASCHA HEIFETZ


Jascha Heifetz - Rondo (Mozart)

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 Jascha Heifetz - Scherzo Tarantelle (Wieniawsky)

Uma verdadeira aula da arte de Heifetz em tocar violino.

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Jascha Heifetz - Hora Staccato (Grigoras Dinicu)

 
Jascha Heifetz - Caprice nº. 24 (Paganini)

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Jascha Heifetz - Estrellita (Manuel Ponce)
Cenas de Heifetz no filme Música, Divina Música! (They Shall Have Musica, 1939), de Archie Mayo.

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Jascha Heifetz - Clair de Lune (Debussy)

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Jascha Heifetz - Melodie (Tchaikovsky)
 

 Jascha Heifetz - Ao Pé da Fogueira (Flausino Vale)
Heifetz ensina um dos seus alunos a tocar o prelúdio nº. 15, a quadrilha Ao Pé da Fogueira, de Flausino Vale, um dos precursores do violino no Brasil.

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O DOCUMENTÁRIO SOBRE JASCHA HEIFETZ


Documentário do diretor Peter Rosen sobre o violinista lituano Jascha Heifetz (1901-1987): Jascha Heifetz, o violinista de Deus (God's Fiddler: Jascha Heifetz, 2011). O filme retrata um artista para quem somente a perfeição interessava. Um músico prodígio que passou a definir os padrões de quase todo o século XX para a interpretação do violino. Realizado por meio de filmes caseiros e fotos pessoais da família, tiradas entre 1903 e 1987, este grande artista tão bem conhecido na cultura popular, tocou violino por 83 dos seus 86 anos de vida. Filmado em Vilna (Lituânia), São Petersburgo (Rússia) e no estúdio de Heifetz em Los Angeles, este documentário mostra a vida de Jascha Heifetz, em que seu nome se tornou sinônimo de grandeza para todos, de Jack Benny aos Muppets, e até Woody Allen.

Trailer God's Fiddler: Jascha Heifetz

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O documentário God's Fiddler: Jascha Heifetz pode ser visto aqui (s/legendas).

DOIS FILMES COM JASCHA HEIFETZ

  
Jascha Heifetz – Retrato de um Artista (1953)

Heifetz visita um colégio e responde várias questões de um grupo de estudantes e toca Mendelssohn (Sweet Remembrance), Brahms (Sherzo & Hungarian Dance nº. 7), Gluck (Melodie), Prokofieff (March), Wieniawski (Polonaise) e Dinicus (Hora Staccato).

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O Trio Rubinstein, Heifetz e Piatigorsky (1953)

Um raro filme do encontro na casa de Artur Rubinstein (pianista) com Jascha Heifetz (violinista) e Gregor Piatigorsky (violoncelista) tocando Schubert (Piano para Trio e Cordas in B flat major/ Op. 99 - 1º. movimento) & Mendelssohn (Piano para Trio e Cordas in D minor / Op. 49 Molto Allegro - 1º., 2º. & 3º. movimentos: Agitato Andante, Tranquillo e Scherzo). Heifetz praticava igualmente música de câmara, mas obtinha pouco sucesso, talvez pelo fato de que sua personalidade tendia a ofuscar os demais. No entanto, este trio de câmara com Arthur Rubinstein, no piano, Jascha Heifetz, no violino, e Gregor Piatigorsky, no violoncelo, permanecem na lembrança como um dos grandes momentos da história da música.

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Fontes consultadas:
Jascha Heifetz - Site Oficial # Cembal - Artists' Biographies
EuroArts # Wikipédia - Jascha Heifetz
O Blog do Músico # Opera Mundi 

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